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CURSO

Leitura das Previsões de onda

A Grande Mancha de Lixo do Pacifico Norte

Atualizado: 18 de jul. de 2023

A Grande Mancha de Lixo do Pacífico Norte ganhou fama depois que o Capitão Charles Moore navegou por essas águas e se surpreendeu com a enorme quantidade de lixo que viu no mar.


O que é a ilha de lixo?

Embora também seja chamada de Grande Ilha de Lixo do Pacífico Norte, ela não parece exatamente uma ilha, e sim uma sopa de lixo com muitos pedacinhos de plástico flutuando por todos os lados e objetos maiores espalhados como redes, boias, garrafas, etc.


Apesar do Capitão Charles Moore levar os créditos pela sua descoberta, ele não foi o primeiro a navegar por lá, nem a estudá-la. Mas ele era um marinheiro sensível à natureza e não pôde se conformar com o lixo que existia ali.


Foi um evento intenso de El Niño – fenômeno natural em que ocorrem alterações nas condições oceânicas e atmosféricas – que levou o capitão a desviar a sua rota durante uma travessia do Havaí à Califórnia em 1997.


Enquanto navegava, estranhos pedaços de plástico flutuando na superfície chamaram sua atenção e isso não saiu da sua cabeça, mesmo depois de voltar para casa. O fato de que no meio do Pacífico, a milhares de quilômetros do continente, existia uma sopa de lixo lhe parecia muito errado.


Naquela época, pouco se sabia sobre lixo no mar e as pesquisas relacionadas ao tema ainda eram escassas. Mas ele achava que aquilo era algo que valia a pena investigar.


A ponta do iceberg

O capitão então decidiu planejar uma nova expedição, com o objetivo de quantificar o plástico presente naquela região. Embora ele não tivesse formação acadêmica, ele valorizava bastante a ciência. Com base em muitos estudos e discussões com pesquisadores experientes dispostos a acompanhá-lo nessa jornada, eles planejaram cada detalhe da expedição.


Durante esse processo, veio a primeira grande surpresa do capitão: o plástico que ele conseguia ver do barco era só a ponta do iceberg. Ele descobriu que existiam pedaços menores e bem mais numerosos - os microplásticos. Por isso as coletas deveriam ser feitas com uma fina rede de plâncton.


Ele também notou que parecia haver uma relação entre a posição das correntes e a estranha sopa de lixo. Eram os famosos giros oceânicos - sistemas de correntes superficiais que se movimentam num padrão circular. Não por coincidência, as grandes zonas de acumulação de resíduos se encontram no centro desses giros. Naquela época, estudos de modelagem já previam essas zonas, mas a existência delas ainda não tinha sido comprovada.



Quanto de plástico tinha na ilha de lixo?

Em 1999, quando ocorreu a expedição, o capitão e sua equipe viram ao vivo o que os estudos revelavam. Segundo ele, as amostras coletadas eram incríveis e perturbadoras ao mesmo tempo. Os resultados obtidos indicavam uma massa de plástico 6 vezes maior do que a de plâncton. O capitão achava que essa descoberta iria chacoalhar o mundo.


Logo ele percebeu que não seria tão simples. Para sua surpresa, uma pesquisa semelhante havia sido publicada quase 10 anos antes. Outros cientistas já sabiam que o oceano estava cheio de plástico e ainda assim, pouca gente ouvia falar sobre o problema. Mas ele estava disposto a mudar isso.


Capitão Charles Moore o cientista cidadão

Com a ajuda dos seus colegas pesquisadores, o capitão decidiu submeter seu trabalho para uma revista científica. Este seria seu primeiro artigo e ele tinha muito a aprender.


Apesar de se questionar se alguém de fora da comunidade acadêmica e sem muita experiência na área teria credibilidade, ele estava determinado a escrever um bom artigo. Meses depois, a pesquisa foi publicada (Moore et al., 2001).


Ele não parou por aí e participou de eventos científicos, ocupou espaço nas mídias, incentivou o trabalho de ativistas ambientais e artistas plásticos, se apresentou no TED Talks, participou de documentários e escreveu um livro chamado Plastic Ocean - que inspirou esse texto.


Quantas ilhas de lixo existem no oceano?

Hoje, o lixo no mar é foco de inúmeras pesquisas. A concentração de plástico foi quantificada nos cinco principais giros oceânicos, localizados no Pacífico Norte e Sul, Atlântico Norte e Sul e no Índico, e grandes zonas de acumulação de lixo foram identificadas em cada um deles (Eriksen et al., 2014).


A Mancha de Lixo do Pacífico Norte é a maior de todas e já ocupa cerca de 1,6 milhões de km² - uma área semelhante à do estado do Amazonas - e seus níveis de poluição aumentam exponencialmente. Estima-se pelo menos 79 mil toneladas de plástico flutuando nessa região e cerca de 46% dessa massa corresponde a redes de pesca fantasma (Lebreton et al., 2018).


Por que a mancha de lixo do pacífico norte é a maior?

A alta concentração de resíduos nessa região se deve principalmente à intensa atividade pesqueira no Oceano Pacífico, e à proximidade de grandes fontes de plástico na Ásia, onde se localizam 8 dos 10 países que mais produzem lixo plástico no mundo (Jambeck et al., 2015).


Embora a maior parte dos resíduos presentes ali já estejam bastante degradados, dificultando sua identificação, expedições mais recentes à Mancha de Lixo do Pacífico Norte, encontraram objetos com data desde 1977, com palavras e textos em 9 línguas diferentes (japonês e chinês foram as mais comuns) e selo de fabricação de 12 países.


Possivelmente, o tsunami que ocorreu no Japão em 2011, contribuiu consideravelmente com a chegada de plástico nessa área (Lebreton et al., 2018).


E a ilha de plástico do atlântico Sul?

Mais perto do Brasil, a Macha de Lixo do Atlântico Sul é um pouco menos estudada, mas existem pesquisas que estimam que cerca de 60 a 80% do plástico de origem terrestre presente na região vem da América do Sul (Lebreton et al., 2012). Lá, encontram-se principalmente embalagens de comida, sacolas, garrafas e petrechos de pesca (Ryan, 2014).


É claro que a luta não é fácil, mas os esforços do Capitão Charles Moore geraram frutos.


Movido por seu amor ao oceano e vontade de protegê-lo, ele se considera um cientista cidadão que vive a sua mensagem. Durante os últimos anos, ele relata que viu um grande aumento na conscientização das pessoas, mas ressalta que essa conscientização deve ser refletida nos nossos hábitos de consumo. Segundo ele, todos os cientistas atuais devem se tornar ativistas, se o seu trabalho for criar um mundo em que realmente vale a pena viver.


Um banho de inspiração. E você, vive a sua mensagem?



Também conversamos com a professora Mônica Costa sobre plástico no mar no Entrevista à Vista! Confere essa conversa que ficou muito legal! <<clica aqui>>




 

REFERÊNCIAS
Eriksen, M., Lebreton, L., Carson, H., Thiel, M., Moore, C., Borerro, J., Galgani, F., Ryan, P. and
Reisser, J., 2014. Plastic Pollution in the World&#39;s Oceans: More than 5 Trillion Plastic Pieces
Weighing over 250,000 Tons Afloat at Sea. PLoS ONE, 9(12), p.e111913.

Jambeck, J., Geyer, R., Wilcox, C., Siegler, T., Perryman, M., Andrady, A., Narayan, R. and Law,
K., 2015. Plastic waste inputs from land into the ocean. Science, 347(6223), pp.768-771.

Lebreton, L., Greer, S. and Borrero, J., 2012. Numerical modelling of floating debris in the
world’s oceans. Marine Pollution Bulletin, 64(3), pp.653-661.

Lebreton, L., Slat, B., Ferrari, F., Sainte-Rose, B., Aitken, J., Marthouse, R., Hajbane, S., Cunsolo,
S., Schwarz, A., Levivier, A., Noble, K., Debeljak, P., Maral, H., Schoeneich-Argent, R., Brambini,
R. and Reisser, J., 2018. Evidence that the Great Pacific Garbage Patch is rapidly accumulating
plastic. Scientific Reports, 8(1).

Moore, C., Moore, S., Leecaster, M. and Weisberg, S., 2001. A Comparison of Plastic and
Plankton in the North Pacific Central Gyre. Marine Pollution Bulletin, 42(12), pp.1297-1300.
Moore, C. and Phillips, C., 2011. PLASTIC OCEAN: How A Sea Captain&#39;s Chance Discovery
Launched A Determined Quest To Save The Oceans. New York: Avery, p. 368.

Ryan, P., 2014. Litter survey detects the South Atlantic ‘garbage patch’. Marine Pollution
Bulletin, 79(1-2), pp.220-224.
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