Como as marés moldam a costa: Hopewell Rocks na Baía de Fundy
- Mariana Thévenin | Oceanógrafa

- 13 de dez.
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de dez.
A Baía de Fundy, no Canadá, é conhecida por abrigar as maiores marés do mundo, com variações que podem ultrapassar 16 metros.
Essa diferença extrema entre maré alta e maré baixa torna a região um dos melhores lugares do planeta para observar, na prática, como as marés moldam a costa — e as Hopewell Rocks são o exemplo mais famoso desse processo.

Por que a Baía de Fundy sofre erosão tão intensa?
A cada ciclo de maré, mais de 100 bilhões de toneladas de água entram e saem da região. Esse grande volume de água acelera em áreas mais estreitas, aumentando a velocidade das correntes e, consequentemente, o poder erosivo da maré.
Essa dinâmica produz três forças principais que esculpem a costa:
Correntes rápidas, que desgastam a base das rochas;
Sedimentos em suspensão, que funcionam como uma lixa natural;
Ondas comprimidas, que ganham energia ao serem canalizadas entre formações rochosas.
Esse conjunto explica por que a erosão na Baía de Fundy é tão rápida em comparação com outras regiões.
Por que as Hopewell Rocks têm formato de “cogumelo”?
O formato característico das Hopewell Rocks — bases estreitas e topos largos — é resultado direto da ação da zona intertidal, a faixa que fica alternadamente submersa na maré alta e exposta na maré baixa.
É justamente nessa zona que ocorre a erosão costeira mais intensa:
A base das rochas passa horas sob correntes fortes.
Sedimentos arrastados pela maré batem repetidamente na superfície rochosa.
No inverno, o ciclo de congelamento e degelo acelera ainda mais a fragmentação.
Enquanto isso, a parte superior permanece mais protegida, sofrendo desgaste muito menor. Com o tempo, essa diferença cria as colunas em forma de cogumelo que tornaram Hopewell Rocks mundialmente famosas.
Quanto tempo leva para formar uma paisagem como essa?
A erosão em regiões de marés extremas ocorre mais rápido do que em áreas de maré baixa, mas ainda é um processo de longo prazo. As formações de Hopewell Rocks são resultado de milhares a dezenas de milhares de anos de ação contínua das marés, ondas e clima.
E a mudança continua: é comum que algumas dessas colunas desabem — o litoral está sempre sendo remodelado.
O que a Baía de Fundy nos ensina sobre erosão costeira
A Baía de Fundy amplifica fenômenos que acontecem em litorais do mundo inteiro:
A maré redistribui sedimentos, abrindo e fechando canais.
A energia das correntes esculpe rochas, plataformas e escarpas.
A zona intertidal determina o ritmo da erosão, definindo onde as rochas se desgastam mais rápido.
Em Fundy, tudo isso ocorre em escala ampliada, quase como uma aula ao ar livre sobre processos costeiros.
O que o oceano nos lembra
Transformação não acontece de uma vez. Ela acontece no ritmo da maré, um pouco hoje, outro pouco amanhã, até que, um dia, olhamos para trás e percebemos que tudo mudou.
É a força da constância, não da violência. Da paciência, não da pressa.
E talvez seja por isso que as Hopewell Rocks emocionam tanto: elas são o testemunho silencioso de que o tempo esculpe tudo, inclusive a gente.
Escrito por Mariana Thévenin | oceanógrafa⠀⠀⠀





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